terça-feira, 3 de maio de 2011

Cabeleira

Dona Lurdez via poucas vezes o seu marido Alberto. Quando acordava, ele já estava no banheiro, penteando aquela cabeleira. Mal desejavam bom dia e ele já saia, para seu emprego de marketing numa multi-nacional. Meio dia, ela almoçava só. Tinha um certo luxo por trabalhar em casa, uma condição cada vez mais comum na área de informática. De tarde continuava seus afazeres cotidianos até a chegada dele.
Via chegar pela janela. Antes de descer do carro, sempre olhava como estavam seus próprios cabelos, para se apresentar bem a mulher.
Ele, dava um beijinho nela e corria pr'o banheiro, olhar a cabeleira.
Toda noite assistiam algum filme juntos. Não tinham televisão propriamente dita. Conectavam um notebook. Acreditavam que na TV tradicional só passava besteira, que as coisas boas dela, poderiam ser vistas na web. Certos ou não, viviam assim, e só assim. 
Tinha um gosto incomum de apreciar filmes mais escuros, não importava se era de ação, terror, drama, comédia... O importante era ser escuro. Não que fosse alguma estética bizarra que admirava, apenas aproveitava os ligeiros momentos em que a TV ficava totalmente escura para olhar, pelo reflexo, sua cabeleira.
Mas era so isso. Nada de sexo, nada de um vinho antes de dormirem. Nada de nada. Só filmes, talvez um comentário sobre, e sono. Lurdez achava isso terrível pois tinha matado aquela doce e selvagem jovem que existia nela. Sentia falta do homem que ela conheceu. Ele? Estáva satisfeitíssimo com sua vida. Já tinham planejado não ter filhos, tinha uma mulher ao seu lado, um carro, uma casa, e uma cabeleira.
Mas naquele dia, daqueles que as mulheres estão mais angustiadas, ela enfim perguntou "Amor, por que não toma um suplemento hormonal?", e ele "Acelera a queda capilar".

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