quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E no jantar

A senhora Munique estava ansiosa. Já tinha arrumado a casa, alias, mandado a doméstica limpar 3 vezes. Pos musica classica na central multimídia da casa. Não que gostasse, mas achou apropriado para a ocasião. Todos estavam muito arrumados. Ela obrigou todos a irem ao cabeleireiro, ficar bem apresentaveis. Menos, claro, a namorada da visita. Estava com roupas casuais, aquelas que as meninas sempre vão para a universidade, que não dão muito trabalho para se aprontar.
A campanhia tocou. Parecia um pouco ofegante. Logo souberam que ele viera andando, morava perto, para espanto dos pais. Seu Antonio, o homem da casa, ficou particularmente perplexo. Achou que era modismo da juventude, que sempre inventa coisas e mais coisas para ser 'diferente'.
  -- Não sabia que gostavam de música clássica.
  -- Não é nada, aqui nos valorizamos apenas a boa arte - respondeu a senhora.
Era mentira, claro. Ela não tinha saco para isso. Alias, o que é boa arte? Arte cara, feita de madeira do outro lado do mundo (sempre) e doses de elitismo? Com tantas horas de treino e nariz em pé, não sei como essa arte ainda pode ser espontânea, ainda ser arte.
Sentaram – se a mesa depois de uma longa conversa na sala, onde os pais sondaram e extrairam tudo que podiam daquele riquinho que namorava sua filha, poxa, que sorte! Bem serviram – se de porco assado, especialidade da cosinheira contratada. Vinho para acompanhar.
Luciana, a namorada, logo ficou farta e desistiu de terminar o prato.
  --Pense em tantas crianças que passam fome filhinha.
  --Em honra, vamos comer tudo e não deixar para elas – respondeu o namorado, que já estava cansado daquilo tudo.