terça-feira, 7 de junho de 2011

Geraldo, o homofóbico.

Geraldo era homofóbico. Assim não se julgava, evidentemente, mas todos tinham essa ligeira impressão. Ele se esforçava para conversar com homosexuais diariamente, respeitava todos e lutava pelo direito dos gays. Mas aonde se expressava sua intolerância?


-- Os heterosexuais são minoria nesse país!
-- Mas geraldo (minúsculo pois era indiferente), pense melhor.
-- Gays aparecem diariamente nos noticiários, na mídia toda!
-- Mas geraldo, pense melhor.
-- Temos que ir em busca de nossos direitos!!
-- Que direitos? Não temos todos?
-- Não! O direito de aparecermos na mídia! E outros direitos.
-- Que direitos? Não temos todos?
-- É claro que não! Falta - nos espaço nas manifestações. Isso é um direito nosso que não é garantido! Alem de que, temos que ser sempre brancos a vida toda. Já reparou como isso é difícil? Não podemos nem virar negros! Isso é um absurdo! Você não sabe o quanto é difícil manter o status quo. As vezes quero comprar uma balinha no sinal, mas o vidro do carro deve permanecer fechado. Você me entede, a sociedade vive de imagem, e temos que preservar a nossa de... é. Você entendeu.
-- Péssimas palavras para alguem que luta pelos direitos dos outros.
-- Isso faz parte da imagem também! Temos que acompanhar as tendencias da Europa... E temos que nos previnir também! Se não nossa religião será ameaçada! As mulheres terão o direito de usarem burcas!
-- Isso seria um dever...
-- Dever é uma palavra muito forte. Nossa classe não tem isso.
-- Mas...
-- Sem mas?! Já não basta os gays importunando, agora até você!?
-- Pensava que você tinha uma moral superior. Mais sólida talvez...
-- Quer moral mais sólida que uma milenar? Acha que foi fácil manter isso tudo por tantos anos? Quantas guerras, cruzadas... até lutamos pelo direito dos outros! S-o-p-a-r-a-m-a-n-t-e-r-o-s-t-a-t-u-s-q-u-o.

E assim Geraldo seguia sua vida, colocando em prática tudo que aprendeu.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog e pela maravilhosa mente que tens!!


    http://krolrice.blogspot.com

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  2. Mano, não sei pq, mas esse texto me lembrou aquele livreto do Fernando Pessoa "O banqueiro anarquista", onde uma classe aparentemente entregue à filosofia vigente, ao status quo, se mostra a mais próxima, entre todas, da que aparentava contrariar todos os seus ideais, o anarquismo.

    (comentando isso acho que me lembrei o porque da comparação)

    Isso remete àquele costume arquetípico de achar que a tolerância é o melhor caminhos para o bem viver. Mas suspeito (e acho que tu também) que a tolerância não passa de um disfarce pasteurizado do mesmo preconceito. Afinal quem tolera não ama, no máximo suporta a presença.

    Na minha opinião a tolerancia é o primeiro predicado dos covardes. Se as pessoas percebessem o quanto faz bem admitir as diferenças, talvez nem precisássemos discutir mais esta bobagem.

    Mas este, claro, é o macrocosmo da pauta escolhida pelo Geraldo.

    Para o microcosmo (ou micro-raciocínio, como queira) ele se parece muito com um político. Não do nosso tempo apenas, mas de todos os tempos. É o "Senhor Kraus", de Conçalo M. Tavares. O "Cândido", de Voltaire. "O príncipe", de Maquiavel. O presidente Lula.

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